RIEN NE VA PLUS

Preocupante o que se está a passar em Portugal com sorteios e jogos de sorte.
Todos sabemos que facilmente o CONVITE AO JOGO se pode tornar num factor tão compulsivo como as drogas, o álcool, hábitos sexuais desviantes ou o tabaco, este talvez o socialmente menos nocivo, apesar dos cuidados que aparentemente inspira, visto o consumo do tabaco prosseguir o seu caminho indiferente a subidas de preço, a rótulos com ameaças mortais e ao tempo que os funcionários-fumadores perdem em busca de um lugar arejado onde possam satisfazer o vício.
Desde sempre que o jogo a dinheiro afecta todas as camadas sociais de modo negativo – como acontece com todos os vícios – sendo que os montantes e as consequências variam de acordo com as capacidades de acesso à participação em jogos ou sorteios.
Todos teremos tido conhecimento de jogos de casino que terminavam em perdas de grandes fortunas, interdições, suicídios e outros crimes, porque o jogador compulsivo joga tudo, incluindo o impensável. Dostoyevsky descreveu com grande intensidade dramática até onde o vicio do jogo pode arrastar uma pessoa.
Os grupos sociais das grandes apostas estão hoje pragmaticamente mais virados para os jogos da Bolsa.Também por lá se perdem muitos mas é um jogo tão calculado quanto possível e é-o por muitos e especializados agentes.
Daí que os casinos tenham passado a investir em força nas ‘slot machines’, direccionadas estas para as classe médias. E tão sedutoras as tornaram, especialmente em ambiente de casino – o que sempre dá uma sensação de upgrade social – que com isso se criou um novo tipo de jogador que já não é o que aposta em partidas de jogos de cartas ou de dados dentro do mesmo equilíbrio social, o que restringe as apostas, mas alguém que desafia individualmente a sorte, sorte que, por depender de um infundamentado factor inesgotável de fé, convida a uma irredutível persistência que frequentemente ultrapassa a capacidade financeira do jogador ao ponto de, quando o bom-senso se impõe, ser o próprio a pedir instrumentos de interdição que o afastem de algo que ele por si reconhece não ser capaz de controlar.
Fora destes sedutores apelos da sorte nos chamados ‘jogos de azar’ ficavam as classes média-baixa e os mais desfavorecidos. Estes o mais longe que iam era, no masculino, perderem a jorna num jogo de sueca na leitaria do bairro ou numa tertúlia de jardim.
Para eles, porém, a sociedade, sempre atenta e generosa, teve o cuidado de inventar novos ’tabuleiros’ onde com pequenos dispêndios e sem grandes incómodos pudessem fazer parte da grande comunidade dos jogadores consentidos e apoiados.
O jogo a dinheiro, nas suas várias modalidades, passou de vicio negativo a estimulante participação social em que, mesmo não ganhando, dá ao jogador o consolo de colaborar em um retorno social.
É o caso dos jogos da Santa Casa: tudo o que é investido nos jogos contribui com fabulosos montantes para a obra social que compete à dita instituição nos moldes para que, perdida no tempo, foi criada a Misericórdia.
Agora, a juntar à secular e abençoada Lotaria e aos que yêm vindo a aparecer – Totoloto, Totobola, Raspadinha, e não sei se mais algum – vem juntar-se o PLACARD.
Não faço ideia como funciona nem o que terá motivado a sua criação, apesar de já ter ouvido que a ideia é diversificar para evitar a acumulação de montantes . Não tenho a menor dúvida, de que, tal como tudo neste país, será aplicado numa boa causa.
O que considero preocupante são as consequências que estes ainda que bem intencionados convites ao jogo e a publicidade que os envolve possam ter na vida das famílias mais carenciadas, onde pairam os que, sempre na esperança de que algum dia a sorte os favoreça, são mais facilmente seduzidos.
É certo que se trata de apostas que não requerem grandes montantes. Porém, a compulsão da aposta, ou o desespero de quem possa ver no jogo a solução de alguns problemas, podem levar a que o somatório das várias apostas, num pequeno orçamento – como são os da maioria dos portugueses que sustentam ou sustentaram com o seu trabalho toda a camarilha de desonestidades que enchem os noticiários – seja susceptível de impedir necessidades ou pequenos prazeres familiares resultante do desvio de dinheiro que poderia ser investido em pão, fruta, um iogurte, um chocolate para uma criança ou qualquer outra pequena despesa, consonante o investido no jogo, feito sempre na mira dos frondosos biliões que saem algures a alguém todas as semanas.
É certo que para fazer face a essas carências não só a própria Misericórdia disponibiliza dádivas compensatórias como existem uma série de iniciativas no mesmo sentido. Mas não deixa de haver algo de paradoxal nisto!
Tal como há algo de pouco sério no convite que certos canais televisivos fazem – essencialmente em horários e programas em que a maioria dos espectadores são idosos, alguns com parcas reformas que mal chegam para a medicação – a chamadas telefônicas que os habilitam a um qualquer prémio, modestíssimo se contabilizados os gastos diários envolvidos, gastos esses que muitas vezes pesam nas contas de telefone que os filhos têm que pagar e que, consequentemente, geram por vezes um péssimo ambiente.
Será que para além dos impostos directos e indirectos ainda cabe aos portugueses participar no sustento de estações televisivas com problemas de manutenção?
Será que, por interpostas pessoas, o Estado estende a mão à ingenuidade dos portugueses para resolver situações que só a ele deviam caber?
Algo se passa nesta roleta econômico-financeira que não para de girar em sentido inverso. Até que apareça quem tenha a coragem de de dizer “RIEN NE VA PLUS!”

AS COISAS COM QUE ESTE PAÍS SE ENTRETEM!

Se no século XXI a miséria de um País começa pela qualidade dos seus meios de comunicação social é tempo de atentarmos no caminho que Portugal leva. Desde a televisão aos jornais impressos em papel – com notável vantagem para estes, devido à qualidade de alguns jornalistas – ‘o povo’ anda a ser entretido com assuntos de superior importância, que vão desde as diatribes futebolísticas até ao relevantissimo problema com que o sistema educativo se debate ao concluir que as crianças em idade escolar não sabem saltar a corda nem dar cambalhotas, o que seria bom para as entreter durante os períodos de greve e nas diversas lacunas quotidianas nos horários, resultantes estas das mais diversas causas.

O futebol é não só um espectáculo desportivo como é um superactivante espectáculo de variedades de péssimo gosto. “Finos” e “grossos”, todos acabam mal no álbum de família pelas contradições em que são apanhados. A verdade, porém, é que o povo futebolístico gosta de ambas as facetas por mais façanhudo que se mostre perante os facto a que tem acesso. Sim, porque o futebol é muito mais do que os onze, o treinador, os orgãos directivos, os sócios, os adeptos e tudo o mais que emerge e imerge conforme as circunstâncias. Daí o ‘sururu’ que as alarvidades, ameaças e treslocamentos de um fulano sem ponta de interesse para a vida de todos nós  seja utilizado para preencher as decadentes estações televisivas que se agarram desesperadamente a qualquer coisa que lhes preencha os tempos que sobram dos anúncios, dos escândalos – que já nem o são de tal modo nos habituámos a eles e aos sucessivos apagões e ressurgimentos a que são sujeitos conforme as conveniências – , dos programas popularuchos pagos com o dinheiro angariado por sorteios telefónicos através de azougadas apresentadoras, das enfadonhas e intermináveis telenovelas em que a pobreza e mediocridade dos argumentos é salva pela qualidade dos  actores . O homem de quem se fala é ele próprio o espectáculo que suscita críticas e opiniões que escondem o que subjaza  esse aparente entusiasmo clubista. É a ‘entretenga’ do momento.

Enquanto isso lá fora o mundo move-se, embora dele nem respingos nos cheguem, bombardeados que somos com as maravilhas domésticas de que, por ingrata distração, não nos damos conta. Por maior que seja a evidência que nesta sociedade de crescentes dependências e interdependências, tudo o que nela se passa virá forçosamente a afectar as nossas vidas e bulir com uma economia dependente dos humores meteorológicos e das capacidades financeiras do tipo de turistas alugadores de hotelaria de improviso, o poder prefere-nos ignorantes, alegres patetas brindados com prémios e condecorações que, ainda que mais não façam, têm como objectivo alimentar-nos o amor próprio de velho Povo de consciência histórica.

Entretanto, a geografia económica do mundo está a sofrer uma imensa alteração que ameaça mesmo superar a virtualidade financeira que tanto nos tem surpreendido.

A era Trump, dure ela o tempo que durar, trouxe um novo entendimento das prioridades de relacionamento entre as potências económicas que realmente importam e do papel que são convidadas a desempenhar.

Trump, goste-se ou não do estilo – que determinados mídia internacionais se têm empenhado em ridicularizar sem que isso pareça afecta-lo minimamente – será tudo menos estúpido e, logicamente, um homem que tem interesses em vinte e sete países (fora aqueles que desconhecemos) será tudo menos um belicista. Os seus ‘main interests’ , tanto como Presidente de uma grande Nação, como como homem de negócios, residem no desenvolvimento da economia americana e na criação de elos que possam contribuir para uma economia mundial liderada pelos países detentores de economias consolidadas e não dependentes das industrias de armamento, como tem vindo a acontecer um pouco por todo o lado no pós ‘guerra fria’, com visíveis sacrifícios do bem estar das populações, sacrifícios justificados seja por motivos políticos, seja por motivos religiosos, ou pela confusão de ambos.

Trump reconhece a paridade entre o poder dos Estados Unidos e o poder da República Russa e, apesar dos dissabores que é forçado a enfrentar no governo de um povo insistentemente formatado para ver na Rússia o inimigo por excelência do ‘american way of life’, empenha-se em pôr de lado ideologias domésticas e apostar num pacto de colaboração económica e num entendimento de não agressão benéfico para ambos os povos e para o mundo. E, diligentemente, vai dando passos no sentido de envolver nesse projecto países que se aproximam já bastante do nível das duas grandes economias tradicionais, como é o caso da China e seus aliados e da India que, como é sabido, regista um progresso notável a nível económico. Acrescente-se a este magno projecto a comunidade dos países de língua inglesa – de que tal como acontece com o Brasil e Portugal, a liderança é mais americana do que inglesa – e os países dos petro-dollars, e teremos a visão de um mercado gigantesco que se pode dar ao luxo de ignorar a Europa sem que a Europa possa fazer o mesmo em relação a ele.

SE desta confluência de riqueza nascer em simultâneo um ‘plano Marshall’ para os países subdesenvolvidos e em vias de desenvolvimento; SE, sanadas por um viver digno, as classes pobres dos países ricos se acomodarem nos seus lugares de origem; SE o olhar das diversas organizações surgidas do pós-guerra se debruçar com empenho na apresentação de soluções práticas em vez de relatórios teóricos sobre situações que se perpetuam; SE os povos passarem a reflectir sobre os persistentes temas com que os políticos os bombardeiam e se alargarem a novos horizontes, é de crer que possamos ter esperança em uma mudança positiva que ponha fim, ainda que leve o seu tempo, ao clima de agressividade, confusão e instabilidade que o mundo vive, com um nomadismo que se desloca sem tréguas atraído pela riqueza e por aquilo que ela proporciona.

Em tudo isto o papel da Europa, sempre em bicos de pés e tão fantasiosamente segura da sua posição no mundo, parece bastante fragilizado. Cansada dos problemas dos países do Sul e com capacidade para investir e concorrer nos diversos mercados, é bem possível que a Alemanha se comece a chegar a Eurásia, o grande continente de que a Europa é pouco mais do que uma península.

Se tal acontecer, a já tão contestada UE e suas dispendiosas organizações, maioritariamente sediadas em países de expressão francesa, terá que sobreviver de acordo com as suas posses, ainda que continue referenciando-se como o espaço cultural de excelência que de facto é.

Não seria mau que nos fossem alertando para o futuro sombrio que poderá emergir deste maravilhoso e promissor presente com que carinhosamente nos mantém felizes.

O DIA DOS IRMÃOS

Hoje é o dia dos irmãos!
Como ontem foi o dia da criança, antes o o do idoso, o dos avós, o dos pai, talvez também o dos primos, o dos namorados, o dos cunhados, o dos padrinhos, o dos afilhados, etc., etc., etc..
De todos estes ressalta o Dia da Mãe, que era de há muito o dia da nossa Mãe Nossa Senhora, até que alguém reparasse que era muito próximo do Natal e que essa proximidade não favorecia o Comércio que é afinal o que está na base de toda esta hipócrita imaginação comandada pelo dinheiro,e que torna mais evidente a pobreza dos que o não têm e gostariam eles também de obedecer a estas normas e obsequiar os mencionados.
É óbvio que nada disto vai melhorar as relações familiares se elas não estiverem antes estruturadas em verdadeiros afectos que, ainda assim, raramente resistem ao conflito de partilhas e decepções geradas por atitudes que atinjam o nome de família.
Trata-se de uma moda. “o tempo dos beijinhos e abraços”, que vai ficar temporariamente na história como a época ridícula em que as pessoas eram classificadas pelas demonstrações de ‘pieguices’, sendo ‘pirosos’ os que davam dois beijos, aceitáveis os que davam apenas um, ‘gente bem’ os que apenas se cumprimentavam com efusivos sorrisos de acolhimento.
Agora, aparte as demonstrações de afectividade e talvez de carência afectiva de Marcelo, temos muita gente sentimental, alguns deles conhecidos como autênticos brutos, fazendo apelo a coisas que, mesmo sem eles, têm na maioria dos casos sincero a efectivo lugar nas saudades que todos sentimos da casa paterna, da infância, das férias, dos momentos familiares em que tudo era gratuito e inocente.

A ideia peregrina, e assaz estúpida, de aconselhar os fumadores a ‘amar’ em vez de ‘fumar’ seria de rir se não desse vontade de chorar. Chorar porque esta gente confunde amor com passatempo e entre o tipo de passatempo implícito – que não é largar o cigarro para ir ajudar o próximo, o que não se faz no espaço de umas fumaças – que consistirá em buscar a felicidade naquilo a que eles chamam uma ‘rapidinha’ e de cujas e cada vez mais disseminadas práticas se desfazem lares e se fazem crianças que ou servem de incómodas amarras ou são objecto de disputas que irão marcar as suas personalidades e caracter.
Será que ninguém infunde juízo nesta gente?
Cada dia nos é posta ou proposta uma questão.
Ontem, de âmbito infinitamente mais grave, tivemos que meditar sobre a morte que preferíamos em caso de impotência para decidir ou aceitar na hora. Pior ainda, falou-se de ‘morte digna’, como se aqueles que sofrem algumas doenças mencionadas estivessem. para além do sofrimento que os aflige, à beira de uma morte indigna , acaso os políticos – e que gente! – não decidissem sobre o que eles deveriam decidir.
Acontece que a morte, tal como o nasscimento, é sempre digna, independentemente das circunstâncias. O que dá dignidade à morte é a transcendência que a envolve. O que pode e ,infelizmente, muitas vezes não é digno é o modo como decorre o tempo final da vida que a torna indigna devido à indignidade dos que são os próximos , independentemente da dignidade que ele tenha imprimido à sua existência.
A morte de Cristo foi digna do Homem, filho de Deus, que morreu sem revolta suspirando na cruz pelo perdão para aqueles que lhe deram os mais indignos momentos finais da sua santa e sacrificada vida.
Indigna é a vida daqueles que não conseguem vislumbrar a dignidade da morte e, vergonhosamente, se atrevem a fazer dela aproveitamentos políticos.
Num mundo em que tudo o que importa ou é político ou financeiro, em que a ‘dignidade’ se compra e se vende, como se atreve alguém a apontar o dedo ao mais solene e misterioso momento em que se ultrapassa o limiar da existência? De tão preocupados com esses últimos momentos porque razão investem mais na Banca e nos enfeites turísticos do que na criação de condições e em chavões que vão no sentido da destruição do núcleo familiar, guardião de toda a dignidade humana?
Ou será que contavam com negócio semelhante ao do ‘alojamento local’, convidando os desesperados a virem morrer a Portugal – terceiro país da Europa a candidatar-se – a preços módicos, com um bom clima e boas instalações, disposto a importar médicos se os médicos portugueses recusassem a tarefa, e com óptimas funerárias sempre a postos com transportes e cerimónias a pedido? Tudo é possível imaginar neste país sem rumo!

Vivemos num país sem povo. Temos, ao invés, uma população de estrangeiros flutuantes e nómadas apátridas que vão preenchendo lacunas e vão ajudando a iludir taxas de desemprego e a cobrir os subsídios concedidos aos que não podem ou não querem trabalhar.
Os mais aptos partiram, como é aliás de tradição, e os que ficam ou se envolvem a fundo nas instituições e delas vivem – mesmo sendo nós que as sustentamos com impostos, dádivas, jogos de azar, bem mascarados empreendimentos por piedosas causas, etc. – ou estão destinados a servir os indispensáveis sequiosamente queridos turistas, seja sentados nos diversos call centres e serviços afins, ou estão de pé atrás de um balcão aguardando clientes, ou cozinham entusiasticamente os “gourmet”, ou andam de bandeja ou esfregona na mão a servir e limpar, a baixo custo, tudo o que e onde mexe.
Pelo meio temos as vigarices que enfeitam diariamente as primeiras páginas dos jornais e que relatam num dia o que é desmentido, arquivado ou esquecido em outro, no meio do turbilhão dos acontecimentos , turbilhão em que, diga-se, há sempre uns tantos casos de reserva para quando algum mais inconveniente surge que é preciso fazer esquecer sobrepondo-lhe um que já foi – e promete continuar a ser – notícia.
O povo português é sereno. Não existe mesmo povo mais sereno. Os turistas, a menos que sejam terroristas confirmados, podem vir descansados, O nosso tipo de criminalidade é doméstico. A bonomia é a grande virtude que alimenta o nosso inculcado optimismo e nos conforma com um ilusório crescimento que os governantes insistem confundir com desenvolvimento.
O tempo dirá qual o lugar a que nos conduz esta “yellow brick road” e o feiticeiro de OZ que a varre.

Ontem demorei a dormir

Mas você terá alguma vez deixado de ser aquele garoto de olhar de luz e humor fresco? Nunca! Ela, seja quem for, talvez esteja sofrendo tanto como você. E apenas faltou uma palavra, de olhos nos olhos, para que tudo fosse. Mas talvez o mundo tivesse de você perdido alguma coisa. Porque do tudo que você é sempre ficará muita coisa. E o futuro é tão enigmático hoje como o foi antes.

Manual do Pedro

Oi,

É estranho te escrever depois de tudo.

E não é nem porque a gente passou todo esse tempo sem saber um do outro. O estranho mesmo é que, depois das milhões de chances que tive de te puxar de lado pra uma conversa, algumas simples linhas farão o trabalho por mim. Como se escrever fosse fuga pra quem não consegue falar.

Eu pensei em começar pelo básico, “tudo bem”, “e a vida”, “novidades”, mas isso tudo é besteira.

A verdade é que eu demorei a dormir, noite passada. Me bateu um sentimento que, por falta de nome melhor, vou chamar de saudade. Não é saudade saudade porque, você sabe, não dá pra ter saudade daquilo que a gente nunca viveu. É um vazio, uma saudade do que a gente poderia ter sido misturada com uma tristeza porque, no fim, a gente não é mais nada.

Mas eu não quero…

View original post 479 more words

O Tempo

Eu acredito em milagres! Acredito profundamente, com uma Fé sem medida. Não naqueles milagres que os homens inventam e se assemelham a contos infantis e cujo milagre é Deus permitir que as pessoas acreditem porque esse acreditar lhes fortalece a Fé, e quem tem fé tem fé em tudo, mas nos milagres que Deus prepara quando a esperança parece ténue. Aí Deus intervém directamente e é como um raio de luz que incide directamente sobre um planta desmaiada e a faz erguer-se na direcção Sol. Acredito com toda a força de acreditar que mesmo na sombra e mergulhado no interior da terra um rebento possa ser um dia contemplado com a luz e força que o trará à vida e tudo voltará a ser como antes. Melhor ainda que antes porque conheceu a ausência de luz e a secura da terra e isso abre-lhe o peito e mitiga-lhe a sede se souber que todas as flores do canteiro o aguardam no reviver de outras primaveras e que o jardineiro/a aguarda ansiosamente que seja o tempo que o Tempo reserva.

Manual do Pedro

De onde vem essa certeza que todo mundo tem de que tudo vai acabar bem?

Ele anda se perguntando isso com alguma frequência, ultimamente.

“No fim tudo dá certo, e se não deu certo é porque ainda não chegou ao fim”, escreveu Sabino. “Dê tempo ao tempo”, disseram-lhe os amigos, “pois o tempo é o melhor remédio”.

Ao lembrar-se disso, ele ri. É uma risada irônica, a gente sabe, porque o que ele quer mesmo é sentar na calçada e chorar.

A verdade é que essa história do Tempo ser o melhor remédio é uma enorme bobagem. Se o Tempo fosse mesmo um bom remédio, já teria perdido essa mania insana de se arrastar e teria pulado praquela parte em que não havia mais vazio algum em seu peito.

O vazio, ele sabe, é ela.

Os dois já não se viam há meses e, quanto mais Tempo passava, mais preenchido…

View original post 304 more words

Os caminhos da História

Ao atentarmos no mundo em que vivemos damos-nos conta que só uma estratégia muito elaborada nos pode ter conduzido ao ponto em que nos encontramos. Evoluímos demasiado para acreditarmos que, tal como em outros momentos, tudo foi  resultado de um encadeado de acontecimentos que alteraram o percurso da História e que surgiram de decisões pontuais , de maior ou menor envergadura, e se reproduziram em consequências diversas. A verdade é que vivemos num mundo onde o acaso deixou de ter lugar. O nosso é um mundo industriosamente pensado, que se empenha em vingar o passado sacrificando o presente em nome de um futuro de que parece totalmente desinteressado.

Desde o século XVIII que se desenvolve uma estratégia que tem tido o cuidado de não deixar nada ao acaso. Desde os teóricos da revolução francesa, que se empenharam na sublevação do povo, prometendo-lhe tudo o que lhe retirariam mais tarde – tendo mais como objecto o ódio à “austríaca” e a aquilo que o Império Austro-Hungaro significava do que o amor à a França e a preocupação com sofrimento do povo francês, que tão sacrificado viria a ser durante o inevitável Império napoleónico – até aos teóricos da revolução russa, com Marx à cabeça, dispostos a vingar os ‘progroms’ e por fim ao czarismo, passando pelas circunstâncias que no século passado empurraram a Europa para duas grandes guerras, pelo determinante papel da bomba atómica que a inocente teoria da relatividade de Einstein teve no momento exacto, pelo desenvolvimento incrível que Estados Unidos conheceram nos pós-guerras como consequência dessas mesmas guerras, forçoso se torna admitir que tudo isto – e mais aquilo a que hoje se assiste no campo das tecnologias e na sua utilização como programadores de um modo de construir um determinado tipo freudiano de mundo, em que os valores passaram a ser vistos como  dogmas limitadores da felicidade dos homens e causadores de distúrbios que não devem ser tolerados  – nos leva a crer que a civilização ocidental, de génese cristã, tem vindo, e parece destinada a continuar a sê-lo, encaminhada num sentido diverso daquele que a caracterizara ao longo dos séculos.

A sociedade nómada e inquieta que hoje conhecemos é uma sociedade tomada pelo medo que lhe é instilado e que a distancía da esperançosa e confiante comunidade cristã.   E é tal a perversidade com que o medo e os falsos meios alienatórios que o fazem esquecer são transmitidos dando a ilusão de que mais importante do que os temas, factos e assuntos que nos assaltam diariamente, pelos mais sofisticados e psiquicamente elaborados meios, é o avanço tecnológico, os grandes passos que a humanidade vai exibindo nos caminhos do conhecimento.

De nada servem as tardias e desnecessárias desculpas do criador do Facebook. O efeito tem sido de tal modo devastador que parece parte de uma teoria conspirativa para destruir aquilo que eram as linhas mestras da convivência social da nossa civilização. O mesmo podemos dizer do investimento feito nas diversas pílulas contraceptivas que, transformando o sexo em não mais do que um prazeroso e irresponsável divertimento, são fortes contributos para o extermínio dos povos em que a sua utilização se tornou a possibilidade do exercício de um direito politicamente confirmado. Vivemos um tempo em que parece imperar um impulso de morte.

Curiosamente, numa época em que o nomadismo se opõe fortemente ao sedentarismo – a Terra é um espaço comum onde as pátrias, como lugares de estabilização, de pertença e de orgulho deixaram de fazer sentido, onde as fronteiras deixaram de ser linhas de proteção de uns e de respeito de outros – povos de tradição nómada, que continuam a abominar a perspectiva de que lhes seja atribuída uma única pátria, assentam afirmativa e vigorosamente as suas ideias, modos de vida e empreendimentos na estabilidade civilizacional que tudo parecem fazer para destruir e que, através das múltiplas comunidades ligadas entre si através do vasto mundo, criaram e divulgaram os primorosos conceitos de “aldeia global” e “globalização”.

Esta antagônica e infeliz coexistência do sedentarismo  com a insistente instigação ao nomadismo, à criação de gente sem raízes, sem valores aceites como essenciais, sem o privilegiar de uma Língua e da Pátria que nela está presente, sem a aceitação daquilo que cada um é como Povo, oferece-nos a imagem do mundo confuso, sem estética e sem ética, contra o qual nos rebelamos mas que, curiosamente, vamos alimentando.

Até quando exigirão de nós que sejamos imparavelmente modernos para adoptarmos valores que não são os nossos e que não temos coragem de defender, mesmo quando continua a ser atrás deles que escondemos as nossas cobardias?

 

RESILIÊNCIA

Ciente de que o que aqui deixo só é visto por quem alguém por mim terá escolhido como amigos mas sabendo que estou em muito boa companhia, atrevo-me algumas reflexões sobre certos aspectos que ressaltam nestas constantes e preocupantes mudanças de valores a que assistimos e que vão acabar definindo as próximas gerações.
Creio podermos dizer, perante aquilo a que assistimos, e que está minando todas as instituições, que hoje a virtude capital que há que acrescentar às já conhecidas é a RESILIÊNCIA.
Os heróis do presente já não são as figuras heróicas admiradas pelos feitos corajosos em prol de uma civilização, de uma cultura, de uma sociedade, de um individuo.
O herói dos nossos dias é um sujeito que insiste no erro até que ele seja aceite, que nega toda e qualquer falta independentemente da dimensão e estragos que cause, que é incapaz de a reconhecer.
A verdade é que isso resulta de um certo tipo de educação, do tempo em que o treino educacional compreendia todas as vertentes do indivíduo em sociedade.                            
Os descendentes tinham que se apresentar socialmente como isentos de defeitos, inclusivamente de problemas físicos – até onde era possível esconde-los…- e havia que os preparar para saírem sempre vitoriosos e perfeitos de todas as situações.
Uma das recomendações era “negar sempre qualquer acusação mesmo que fosse verdade”, a outra era “ quando apanhado a ter cometido um erro nunca pedir desculpa ou assumir o erro mas antes insistir nele até que a insistência e o tempo acabem por convencer os restantes mortais que não se trata de um erro mas de um outro modo de pensar e fazer as coisas”.
Esta “educação”, de que felizmente nunca fui vítima nem transmiti aos meus mas que vi ser aplicada frequentemente, tem dado os seus frutos e sido altamente onerosa quando se trata de intermináveis processos judiciais que se prolongam de recurso em recurso e de que ninguém desiste: os acusados porque acham que se insistirem até à saturação acabam por sair todos frescos porque o tempo os ilibou (para isso existe a figura de ‘prescrição); os advogados por razões óbvias, alguns deles sobejamente conhecidos por se alimentarem de casos que a maioria teria relutância em defender.
Jamais alguém tem a coragem de assumir um erro e, o que é mais grave, a sociedade habituou-se a contemplar este tipo de comportamentos no âmbito daquilo a que chama de Justiça.
Porém, a maior perplexidade reside no modo como as instituições aceitam fragiliizar-se como objectos deste tipo de assaltos àquilo que deveria, por inerência, ser a sua força.
A maioria parece nem se dar conta da sucessão de vitórias de Pirro que tanto satisfazem gente sem carácter e ignorante do que seja vergonha.
Ao povo, acima de tudo à grande maioria do povo português que nunca se dá ao trabalho de reflectir sobre o que é importante, resta-lhe assistir com mais ou menos revolta a estas intermináveis e recorrentes novelas e ficar-se por lamúrias sobre as conclusões, É triste mas a comunicação social vive essencialmente disto. A passada semana foi disso saturaste exemplo.

Os Adeptos

Nos últimos dias têm sido notícia vários actos que, creio, merecerem alguma reflexão da nossa parte, especialmente dos que como eu tendem a a dar a primazia à pessoa e suas circunstâncias.
É falso! Qualquer comunidade, independentemente da sua dimensão ou do seu peso social, se sobrepõe ao indivíduo, seja para o apoiar, seja para o esmagar implacavelmente. E, ‘last but not the least’, consegue aplicar ambas as variantes no mesmo sujeito de acordo com imagens socialmente transmitidas ou ao sabor dos interesses que movem a comunidade.
As comunidades, essas pequenas células, porque são orgânicas, têm um peso muito superior ao das instituições, blocos conceptuais que pesam sobre os indivíduos mas não o tocam verdadeiramente a não ser quando o seu braço os alcança.     O Direito, nas suas várias vertentes, é o que melhor retrata essa relação: foge~se dele, seja através de um comportamento irrepreensível, seja procurando um lugar à margem das instituições; recorre-se a ele como único mediador entre o indivíduo e os pesos e critérios institucionais da envolvente social.

Vem isto a propósito de dois casos perfeitamente distintos, quer na importância, quer na dimensão. Um é um ‘affair’ no interior de um clube desportivo, outro um importante evento cultural de carácter histórico.

O futebol nunca me interessou minimamente e sempre me perguntei o que havia que fizesse dele o desporto “rei”. Seria por ser acessível às”massas”, por ser possível iniciar a sua prática com materiais tão simples como um bola feita de meias rotas num campo improvisado? Ter-se -iam as elites encantado por ele por ter sido trazido para o Estoril por um rei apaixonado por tal desporto quando havia tantas modalidades desportivas que, ainda que mais exigentes nos materiais e nos espaços, eram incomparavelmente mais interessantes? Alguma coisa terá catapultado o que na génese seria um desporto pobre, dependente de uma bola e boas pernas, para o lugar que hoje ocupa a nível mundial.
Contudo, este meu desinteresse foi ultrapassado por notícias que têm vindo a lume sobre misteriosos eventos que estarão tendo lugar nesse submundo.
A coisa deu-me primeiro na vista quando me apareceu no ecrã da Tv, exibindo o seu poder incontestável de líder máximo, um sujeito de voz cavernosa e olhar doentio que parecia determinado a minar por dentro tudo o que fosse susceptível de lhe toldar o brilho. Achei o homenzinho um horror e interroguei-me como seria possível que a massa associativa se revisse num sujeito daqueles. Não fui o único. Nos dias que se seguiram o estado generalizado era de indignação e prognosticava-se-lhe a saída inevitável. Tal, pasme-se, não aconteceu, tal como não viria acontecer por mais socialmente censuráveis que parecessem as suas atitudes e os seus actos. Por trás terá de haver uma comunidade que com ele se identifica, sejam quais forem as razões, e que age como uma muralha defensiva determinada a não o deixar cair e afastando os outsiders.
Essa comunidade ad hoc, ainda que inserida num complexo institucional perfeita e estatutariamente organizado, surge como algo que se substitui ao indivíduo na defesa de uma causa comum e que, na situação, ganha uma força argumentativa e emocional que supera e imobiliza a instituição e vai nela criando anti-corpos em relação a factores e indivíduos que, sendo importantes elementos da instituição, são ‘outsiders’ da comunidade que apoia o inacreditável líder.Perante isto, como vemos frequentemente acontecer, a instituição revela a sua incapacidade dimensional. Indivíduo e comunidade agem como um só perante as dúvidas e os medos por ela suscitados.

Mesmo se passa com os independentistas da Catalunha, ainda que a comparação deva considerar-se extremamente abusiva. Há uma Nação, um regime, uma Constituição, um leque partidário, o Povo da Catalunha . A tudo isto, porém, se sobrepõe-se a discutível determinação de um líder que, ainda que sabendo nós que as razões são culturais e antigas e históricas, na sua determinação se confunde com uma comunidade que supera a integração territorial, o regime,a Constituição, os partidos democraticamente eleitos, o Povo da Catalunha. Parecerá exígua a dimensão da comunidade que apoia o líder – real ou virtual – mas o facto é que pela organicidade emocional que exibe e transmite a sua força é imensa.

A verdade é que as comunidades se geram e reforçam como lugares de pertença e ganham força constituindo-se em núcleos mais pequenos quando são chamados a defender um dos seus.
Pessoalmente sempre me soube bem a liberdade de, mesmo sabendo-me vulnerável a tudo, não pertencer a que quer que fosse.

Néscio que sou! Homem que não sinta ter uma comunidade a apoia-lo expõe a sua fragilidade imensa perante qualquer poder, ainda que de um santo se trate.
Ao próprio Jesus, destinado a inspirar uma enorme e perene comunidade religiosa, faltou-lhe a consistência de uma comunidade detentora do arrojo de se afirmar dele e com ele. Só depois da sua morte essa coesão se manifestou. Primeiro dispersa, depois institucionalizada na que viria a ser a sua Igreja. E o mesmo terá faltado a João Baptista e tantos outros no decorrer da história do cristianismo.

O que salva não são as instituições mas as comunidades, conscientes que são das fragilidades do homem desamparado e com ele se solidarizam.

GostoMostrar mais reações

Comentar

LÍDERES

Pela primeira vez desde quando, após a vitória dos Aliados, Roosevelt, Stalin e Churchill se reuniram em Yalta para desenhar o mundo do pós-guerra, voltamos a ver, para o bem ou para o mal, três gradas figuras na política mundial, desta vez já sem a presença britânica – que já não é nem voltará a ser o forte decisor que foi – mas com a fortíssima presença da China.
Trump – goste-se ou não, e malgrée as diligências dos apoiantes da infeliz Hilary para o apearem – vem dando quotidianamente provas das suas qualidades de liderança; Putin volta a ter mais uma vez oportunidade de por à prova a sua capacidade para liderar esse grande país que é a Russia; a China reafirma e prolonga a sua confiança no homem que governa esse enorme e super populoso território.
Juntos, estes três homens podem encontrar soluções de paz para um mundo povoado de múltiplas guerras dispersas e fundamentadas pelas mais variadas causas, guerras que, seja por razões ideológicas ou de pura ganância comercial no competitivo mercado do armamento, Estados Unidos, Rússia e China têm vindo a alimentar. Cabe-lhes agora, se se entenderem e deslocarem para outras áreas os seus interesses – e são tantas e tão variadas aquelas que tanto necessitam e pouco ou nada recebem… – terem o arrojo de se empenharem no contrário do que costumam ser as prioridades dos poderosos. Pode este ser um sonho idílico mas seria bom que o mundo, desabituado de pensar e programado, como tem vindo a ser, para visões ideológicas e políticas financeiras, começasse a acreditar nessa possibilidade ideal.
Curiosamente, qualquer deles se afirma com um sentido pátrio que contradiz em tudo a confusão que tem sido promovida entre globalização comercial e globalização demográfica.
TRUMP afirma destemidamente que para ele o’ main point’ é “America first”; PUTIN recorda que a História da mãe Russia apela a grandeza do seu povo; a CHINA afirma-se destemidamente pelo vasto mundo sem contudo perder a sua identidade.
A ‘globalização’ parece ser apenas um preocupante objectivo de uma preocupada Europa, Europa que se assemelha a uma nau sem rumo capitaneada por subalternos de uma liderança que não existe e, pior ainda, não sabe se é desejável ou não.
Com a Inglaterra preparando-se para abandonar o barco e para ir defender os seus interesses numa ‘Commun Wealth’ que já não domina mas em que vê mais possibilidades do que na acanhada estratégia europeia, a despendiosissima UE, um ‘país’ virtual que se sustenta a si próprio com a contribuição dos países que sustenta, que é uma espécie de ‘huit clos’ de complicada definição, apoiado no instável conceito de ‘Mercado’.
É indubitável que a Europa sofre, entre outras crises derivadas desta, de uma crise de lideranças.
Na forte Alemanha Merkel desdobrou-se em esforços para conseguir maioria para governar; em França, Macron – que terá sonhado ser ‘un petit Napoleon avec sa Josephine’ – desdobra-se em propostas pelos vários cantos do mundo, assemelhando-se mais a um ‘Tin- Tin aqui e ali’ do que ao imperial modelo que o inspirou -; a Itália procura a indispensável estabilidade política que precisa mas parece sempre não desejar; Espanha vive mergulhada nas suas próprias interrogações quer territoriais , quer de regime; os restantes países ou vivem desnunidamente a União, como é o caso de, entre outros, a Grécia, ou, lá para o Norte, mantêm-se discretamente respeitosos na sua independência.
Portugal, este encantador país que Deus dotou com um sol radioso, um extenso litoral oceânico, um povo humilde e obrigado – usado e abusado por viajados e internacionalizados compatriotas, empenhados na ‘globalização’ e em todas as velhas e novas tecnologias que lhe queiram impingir e que, ainda que não desenvolvam o país, fornecem uma aura de ‘crescimento’ que, com o auxilio do permanente futebolismo que lhes alimenta o cérebro, os festivais nas várias ‘palas’ que lhes abanicam o corpo, os eventos internacionais que, misericordiosamente, se deixam seduzir pelos seus acolhedores ‘areópagos’, e os estupidificantes telejornais que lhes dão a ilusão de existirem para o mundo – é um caso à parte.
Aqui, Deus seja louvado por isso, nada de importante se passa. Vive-se nos intervalos da chuva quando chove, ou mirando o azul do céu enquanto se rói uma azeitona.
Por detrás de tudo isto tem crescido, tem-se desenvolvido afoitamente um mundo de ‘eleitos’ que habitam os seus próprios segredos de onde respigam gradualmente várias pontas que ameaçam soltar-se.
Mas não temamos! Tudo está decerto previsto e organizado à boa maneira do lusitano desenrascanso.

Líderanças fortes inquietam o mundo dos fracos relativamente a elas – ainda que possam ser fortíssimos tão absolutamente quanto possível – porque defendem causas, valores, interesses para cuja defesa foram eleitos. Causam medos, e o medo é desnorteante e inimigo da inteligência.
São esses medos, maiores e mais inquietastes nos fortes do que nos fracos, que têm feito do mundo aquilo que ele é e que, introvertida ou extrovertidamente, é objecto de todas as queixas e censuras.

Lembrando Bento XVI

Apesar da grande admiração e estima que o mundo em que me incluo nutre muito justamente pelo franciscanismo do actual papa , tenho sempre presente a figura de Bento XVI, o seu notável percurso, a lealdade com que desempenhou cargo que lhe tenha sido incumbido, mesmo quando a sua brilhante inteligência e a sua personalidade não se identificavam com ele, como é patente para quem tenha lido parte da sua vastíssima obra.
Bento XVI nunca deixou que a sua visão pessoal interferisse com função institucional que lhe fosse atribuída e, creio, não o teria feito ainda que essa função fosse em detrimento da imagem que emergia do textos que reflectiam o seu pensamento e a sua imensa Fé.
Como Papa foi defensor da Verdade até ao limite das suas possibilidades. Por fim, com a lealdade que, perante si próprio e a instituição que servia, sempre o caracterizou, saiu tão discretamente quanto possível com a dignidade de um ser que, sendo superior, conhece os limites da sua contemporização, e fe-lo sem temores, sem implorar que rezássemos por ele, sabendo que seriam muitos os que, mesmo sem o seu pedido, o incluiriam nas suas orações.
Vem isto a propósito de um caso que se deu com uma amiga minha que um dia, ao chegar a casa, encontrou junto à porta um grande envelope de correio que pelo correio não tinha passado. Dentro estavam, compiladas, cerca de uma centena de folhas escritas à máquina e no canto superior direito um cartão. “Aqui te deixo que resta de quando era vivo. Morri para uma outra existência que me foi imposta, um outro nível em que, dentro da morte, se continua a existir e a criar vida como se de uma danação se trate. Quando acabares de ler , se te quiseres dar a tal tarefa, deixa isto no último banco de …….no dia…. às….horas. Não deixes de o fazer. Alguém o irá buscar.” Ela assim fez.
O que aquele homem tinha vivido, num contacto pleno com uma sociedade que se vangloriava no seu pior, atingira-o profundamente mas criara nele a esperança de, em prol das gerações futuras , os conseguir encaminhar pela palavra. Puxava-os a si pactuando com tudo o que reprovava, com a certeza de ser essa a única maneira de ser ouvido e, empenhando-se, chegar a uma juventude que desejava diferente daquele atropelo de inconsciência em que lhe fora dado existir. Contudo, a convivência com a promiscuidade e com a ganância, se por um lado propiciara os meios de que necessitava para se fazer ouvir, acabara minando-o por dentro.
X deixou o livro no local como lhe fora pedido e enterrou na saudade aquele amigo que estava morto porque, ao invés do que Jesus fizera com Lázaro trazendo-o de novo à verdadeira vida, uma sociedade falsa , gananciosa e promiscua se empenhara em o enterrar nas profundezas de uma existência que para ele inventara sem que as suas (deles) posições fossem postas em perigo.
Uma sociedade, grupo, comunidade, movimento que não respeita os seus e os encobre sob o martírio não se respeita a si própria. Não procurar dar aos seus oportunidades consonantes com aquilo que apregoa como bem não se dignifica a si própria e dificilmente pode ser levada a sério por maiores que sejam os interesses que satisfaça.
Dar a um bêbado um garrafão da aguardente mais ordinária por saber que com isso o manterá calado e diminuindo mascando simultaneamente o melhor da suas capacidades até ao limite dos interesses da tribo – para depois o deixar enterrar-se na solidão do nojo, onde nem sequer o vómito lhe é permitido porque a alma, a que nunca morre, exige que sejam salvaguardados compromissos vitais a que a estratégia o amarrou – é pecado que atravessa as fronteiras da Terra, macula alma dos estratégias, deixando-os agarrados à terra ode, podemos viver sem qualquer vinculo autêntico de transcendência e dos valores que em nome dela nos alcandoraram à dignidade máxima do homem, que consiste em viver em Verdade, no Caminho do Homem que conduz à única e autêntica vida.
Ou continuaremos na “Yellow brick road where the dogs of society bite”.